Imagine esta cena: um trem desgovernado está prestes a atropelar cinco pessoas que estão presas nos trilhos. Você está ao lado de uma alavanca que, se puxada, desviará o trem para outro trilho onde apenas uma pessoa será sacrificada.
O que você faz?
Esse é o Dilema do Trem — um dos dilemas éticos mais famosos da filosofia, que questiona a natureza do certo e errado quando toda escolha implica sofrimento.
O que torna essa questão ainda mais interessante é vê-la aplicada na cultura pop — especialmente em animes e games, onde decisões semelhantes não são teóricas: elas têm rostos, nomes e consequências reais no enredo. Hoje, vamos analisar como esse dilema aparece em Death Note, Attack on Titan e The Last of Us — e o que essas histórias dizem sobre nós.
🧠 O Dilema Ético: Utilitarismo vs. Deontologia
Antes de entrar nos exemplos, vale lembrar que o dilema do trem é, na verdade, uma metáfora para duas escolas de pensamento ético:
- Utilitarismo: a ação moral é a que causa o maior bem para o maior número de pessoas. Nesse caso, puxar a alavanca e salvar cinco vidas seria o “certo”.
- Deontologia (Kant): não devemos violar princípios morais, mesmo que o resultado seja bom. Matar uma pessoa ativamente (mesmo para salvar cinco) seria inaceitável.
Agora que você já entendeu a base filosófica, vamos ver como esses conceitos se manifestam nas decisões brutais e impactantes de nossos personagens favoritos.
⚖️ Death Note: Justiça com Sacrifícios?
Light Yagami encontra um caderno que permite matar qualquer pessoa ao escrever seu nome. A princípio, ele acredita estar fazendo justiça ao eliminar criminosos, criando um mundo melhor. A lógica de Light é inteiramente utilitarista: matar alguns para salvar muitos.
Mas à medida que a história avança, vemos o dilema se aprofundar:
- Ele começa a matar inocentes para proteger seu segredo.
- Passa a se ver como uma divindade.
- E, no fim, a pergunta ecoa: ele era mesmo o herói, ou apenas um assassino com boas intenções?
Death Note coloca o espectador no centro do dilema: até onde vai o “bem maior”? Existe um limite para a justiça feita pelas próprias mãos?
🔥 Attack on Titan: Sacrifícios em Massa Pela Liberdade
Em Shingeki no Kyojin, o dilema do trem ganha proporções épicas. Eren Yeager, inicialmente movido pelo desejo de proteger seu povo, vai se transformando numa figura sombria. Ao descobrir a origem do conflito entre Eldia e Marley, ele opta por uma decisão extrema: o “Rumbling”, um genocídio em massa para proteger os seus.
Essa escolha representa o dilema em sua forma mais cruel:
- Milhões morrerão para garantir a sobrevivência de um grupo específico.
- É possível justificar isso como defesa?
- É mais cruel fazer nada e ver seu povo ser exterminado?
A série não oferece respostas fáceis — e é por isso que Attack on Titan é tão poderoso. Ela coloca o espectador diante de um espelho ético, forçando-nos a refletir sobre os limites da liberdade, da justiça e do sacrifício.
🧬 The Last of Us: O Preço de Uma Cura
No aclamado game The Last of Us, o dilema do trem aparece em um dos momentos mais emocionantes da história dos videogames. Joel, o protagonista, descobre que Ellie pode ser a chave para criar uma cura para o fungo que devastou a humanidade — mas para isso, ela precisa morrer.
E então, ele toma sua decisão: salva Ellie, matando os médicos e condenando potencialmente a humanidade.
Esse é um dilema profundo:
- Joel age por amor, mas à custa de milhões.
- O jogador é forçado a participar da decisão, tornando o impacto emocional ainda maior.
- E, no fim, a pergunta permanece: você teria feito diferente?
The Last of Us joga na cara do jogador a brutalidade da escolha. Não há alavanca imaginária — há sangue, perda e humanidade.
🪞 Por Que Isso Nos Afeta Tanto?
O motivo pelo qual esses dilemas ressoam tão fortemente em nós é simples: porque são reais. Talvez não com trens ou zumbis, mas todos nós já enfrentamos decisões difíceis onde:
- Nenhuma escolha é perfeita.
- Toda ação tem um preço.
- E, muitas vezes, o certo e o errado se confundem.
A arte — seja em anime ou game — nos treina emocional e moralmente. Ela nos permite ensaiar, refletir, chorar e nos questionar sem as consequências da vida real. Mas as perguntas que ficam são inevitáveis:
- Qual é o valor de uma vida?
- E se fosse alguém que você ama?
- Você puxaria a alavanca?
📚 Filosofia Pop: Um Exercício de Consciência
Essas narrativas nos mostram que a ficção pode ser um campo fértil para o pensamento filosófico. O dilema do trem, quando vivido através de personagens como Light, Eren ou Joel, se torna mais do que uma hipótese ética: vira uma provocação existencial.
A boa ficção não dá respostas prontas. Ela faz perguntas incômodas.
✅ Conclusão: E Se Fosse Você?
O dilema do trem continua vivo — nas histórias que amamos e nas escolhas que fazemos todos os dias. Talvez você nunca precise decidir entre salvar cinco pessoas ou uma. Mas, em menor escala, já se viu em situações onde não há um “certo” absoluto.
Por isso, esses animes e jogos são mais do que entretenimento. Eles são espelhos — de nossa ética, nossos valores e nossas sombras.
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