Capítulo 2 – Ecos do Passado

Ethan recuou instintivamente, seu coração martelando no peito. O vulto avançava rápido, e ele só teve tempo de erguer o braço antes de ser empurrado contra o altar. 

Onde está Noah? — a voz do estranho soou abafada pelo capuz, mas carregava uma urgência sombria. 

Eu que deveria perguntar isso! — Ethan retrucou, tentando se soltar. — Quem diabos é você?! 

O encapuzado não respondeu. Em vez disso, empurrou Ethan para longe e correu em direção à saída da capela. O programador não pensou duas vezes antes de persegui-lo. 

As ruas de Neonville estavam vazias àquela hora, apenas a luz artificial das placas holográficas piscando acima das avenidas. Ethan correu sem pensar, desviando dos postes e dos montes de lixo deixados nas calçadas. O estranho era ágil, mas Ethan não era alguém fácil de derrubar—anos de academia e noites sem dormir o haviam deixado resistente. 

Viu o vulto dobrar uma esquina e correr por um beco escuro. Ethan acelerou o passo, mas assim que entrou no beco… o estranho havia desaparecido

O quê? Como…? 

O único som era o zumbido distante dos carros elétricos e o brilho fraco de um letreiro quebrado piscando: 

“BEM-VINDO À IGREJA DE SÃO MIGUEL. A SALVAÇÃO É AGORA.” 

Ele sentiu um calafrio subir pela espinha. Algo estava muito errado. 

Noah está desaparecido. 

Alguém sabe disso. 

E Ethan está no meio de algo muito maior do que imaginava. 

Respirando fundo, voltou para a moto e pegou o envelope que Noah deixara. Abriu-o com dedos trêmulos. Dentro, havia um pequeno pedaço de papel dobrado com uma única frase escrita à mão: 

“A verdade não é para aqueles que dormem. Encontre-me onde a luz morre.” 

Ethan ficou encarando as palavras. Ele conhecia essa frase. Já a ouvira antes. 

Então, um estalo. 

O Orfanato de São Gabriel. 

O PASSADO NUNCA MORRE 

Ethan cresceu sem família. Nunca conheceu os pais. O orfanato São Gabriel foi sua casa até os 14 anos, quando fugiu para viver por conta própria. 

Mas havia algo naquele lugar que sempre o incomodou. Algo errado. E Noah… Noah também cresceu lá. 

Maldito seja, Noah… — murmurou, ligando a moto. 

O ronco do motor ecoou pelas ruas enquanto Ethan acelerava rumo ao orfanato. 

O problema é que ele não era o único indo para lá naquela noite

O ORFANATO 

O prédio estava caindo aos pedaços. As janelas estavam quebradas, e pichações cobriam as paredes de concreto. O antigo orfanato agora era um lugar abandonado, um refúgio para viciados e moradores de rua. 

Ethan entrou cauteloso, a madeira rangendo sob seus pés. O cheiro de mofo e poeira fez seu estômago revirar. Lembranças começaram a inundar sua mente—ele e Noah correndo pelos corredores, se escondendo nos armários, fugindo da freira mal-humorada que os obrigava a rezar antes de dormir. 

Ele passou os olhos pelo saguão e viu algo estranho: uma vela acesa no centro da sala principal

A chama tremeluzia suavemente, lançando sombras dançantes nas paredes. E logo atrás dela, encostado na parede, estava Noah

Ou melhor, o corpo de Noah. 

Ethan congelou. 

Seu melhor amigo estava sentado ali, a cabeça caída para o lado, a respiração pesada, como se estivesse desacordado. Mas vivo. 

Ele correu até Noah e segurou seu rosto. 

Noah! Cara, acorda! O que aconteceu? Quem fez isso com você? 

Os olhos de Noah abriram-se lentamente. Seu rosto estava pálido, e um filete de sangue escorria da lateral de sua testa. Ele tentou falar, mas a voz saiu fraca. 

Ethan… você veio… 

Claro que vim! O que está acontecendo? Quem fez isso? 

Noah olhou ao redor, como se tivesse medo de ser ouvido. Então, com um esforço visível, segurou o braço de Ethan e sussurrou: 

“Eles estão chegando.” 

Ethan sentiu um arrepio. 

Quem? 

Antes que Noah pudesse responder, um barulho ecoou no andar de cima. 

Passos. 

Ethan se virou rapidamente para a escadaria. Sombras se moviam no corredor. 

Alguém estava ali. 

Noah tentou se levantar, mas caiu novamente. Ethan o segurou e o colocou sobre os ombros. Ele precisava sair dali. Agora. 

Correu para a saída, mas assim que cruzou a porta… uma figura bloqueava o caminho. 

Vocês não deveriam estar aqui. 

A voz era fria e firme. A luz da rua revelou um homem de terno preto, óculos escuros e um sorriso calculado. 

Ethan engoliu em seco. 

Quem diabos é você? 

O homem apenas sorriu mais. 

O começo da sua nova vida. 

E então tudo ficou escuro. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Relacionados

Categorias

Redes Sociais