Ethan recuou instintivamente, seu coração martelando no peito. O vulto avançava rápido, e ele só teve tempo de erguer o braço antes de ser empurrado contra o altar.
— Onde está Noah? — a voz do estranho soou abafada pelo capuz, mas carregava uma urgência sombria.
— Eu que deveria perguntar isso! — Ethan retrucou, tentando se soltar. — Quem diabos é você?!
O encapuzado não respondeu. Em vez disso, empurrou Ethan para longe e correu em direção à saída da capela. O programador não pensou duas vezes antes de persegui-lo.
As ruas de Neonville estavam vazias àquela hora, apenas a luz artificial das placas holográficas piscando acima das avenidas. Ethan correu sem pensar, desviando dos postes e dos montes de lixo deixados nas calçadas. O estranho era ágil, mas Ethan não era alguém fácil de derrubar—anos de academia e noites sem dormir o haviam deixado resistente.
Viu o vulto dobrar uma esquina e correr por um beco escuro. Ethan acelerou o passo, mas assim que entrou no beco… o estranho havia desaparecido.
— O quê? Como…?
O único som era o zumbido distante dos carros elétricos e o brilho fraco de um letreiro quebrado piscando:
“BEM-VINDO À IGREJA DE SÃO MIGUEL. A SALVAÇÃO É AGORA.”
Ele sentiu um calafrio subir pela espinha. Algo estava muito errado.
Noah está desaparecido.
Alguém sabe disso.
E Ethan está no meio de algo muito maior do que imaginava.
Respirando fundo, voltou para a moto e pegou o envelope que Noah deixara. Abriu-o com dedos trêmulos. Dentro, havia um pequeno pedaço de papel dobrado com uma única frase escrita à mão:
“A verdade não é para aqueles que dormem. Encontre-me onde a luz morre.”
Ethan ficou encarando as palavras. Ele conhecia essa frase. Já a ouvira antes.
Então, um estalo.
O Orfanato de São Gabriel.
O PASSADO NUNCA MORRE
Ethan cresceu sem família. Nunca conheceu os pais. O orfanato São Gabriel foi sua casa até os 14 anos, quando fugiu para viver por conta própria.
Mas havia algo naquele lugar que sempre o incomodou. Algo errado. E Noah… Noah também cresceu lá.
— Maldito seja, Noah… — murmurou, ligando a moto.
O ronco do motor ecoou pelas ruas enquanto Ethan acelerava rumo ao orfanato.
O problema é que ele não era o único indo para lá naquela noite.
O ORFANATO
O prédio estava caindo aos pedaços. As janelas estavam quebradas, e pichações cobriam as paredes de concreto. O antigo orfanato agora era um lugar abandonado, um refúgio para viciados e moradores de rua.
Ethan entrou cauteloso, a madeira rangendo sob seus pés. O cheiro de mofo e poeira fez seu estômago revirar. Lembranças começaram a inundar sua mente—ele e Noah correndo pelos corredores, se escondendo nos armários, fugindo da freira mal-humorada que os obrigava a rezar antes de dormir.
Ele passou os olhos pelo saguão e viu algo estranho: uma vela acesa no centro da sala principal.
A chama tremeluzia suavemente, lançando sombras dançantes nas paredes. E logo atrás dela, encostado na parede, estava Noah.
Ou melhor, o corpo de Noah.
Ethan congelou.
Seu melhor amigo estava sentado ali, a cabeça caída para o lado, a respiração pesada, como se estivesse desacordado. Mas vivo.
Ele correu até Noah e segurou seu rosto.
— Noah! Cara, acorda! O que aconteceu? Quem fez isso com você?
Os olhos de Noah abriram-se lentamente. Seu rosto estava pálido, e um filete de sangue escorria da lateral de sua testa. Ele tentou falar, mas a voz saiu fraca.
— Ethan… você veio…
— Claro que vim! O que está acontecendo? Quem fez isso?
Noah olhou ao redor, como se tivesse medo de ser ouvido. Então, com um esforço visível, segurou o braço de Ethan e sussurrou:
— “Eles estão chegando.”
Ethan sentiu um arrepio.
— Quem?
Antes que Noah pudesse responder, um barulho ecoou no andar de cima.
Passos.
Ethan se virou rapidamente para a escadaria. Sombras se moviam no corredor.
Alguém estava ali.
Noah tentou se levantar, mas caiu novamente. Ethan o segurou e o colocou sobre os ombros. Ele precisava sair dali. Agora.
Correu para a saída, mas assim que cruzou a porta… uma figura bloqueava o caminho.
— Vocês não deveriam estar aqui.
A voz era fria e firme. A luz da rua revelou um homem de terno preto, óculos escuros e um sorriso calculado.
Ethan engoliu em seco.
— Quem diabos é você?
O homem apenas sorriu mais.
— O começo da sua nova vida.
E então tudo ficou escuro.