Desde sua estreia no anime e mangá Shingeki no Kyojin (Attack on Titan), Eren Yeager tem sido um dos personagens mais complexos e polarizadores da ficção. O jovem que começou sua jornada com um desejo ardente de liberdade evoluiu para uma figura que desafia a moralidade convencional. Com suas ações controversas no arco final da série, muitos fãs e críticos se perguntam: Eren é um herói, um vilão ou apenas um ser humano tentando sobreviver em um mundo cruel?
O Início: O Ideal de Liberdade
No começo de Shingeki no Kyojin, Eren é retratado como um personagem impulsivo e determinado. Sua motivação principal é destruir todos os Titãs e libertar a humanidade das muralhas. Esse desejo, nascido da perda traumática de sua mãe, representa a busca pela liberdade a qualquer custo. É um conceito filosófico profundamente conectado ao existencialismo de Jean-Paul Sartre, onde o indivíduo cria seu próprio significado em um universo indiferente.
Para Eren, a liberdade é a única coisa que justifica a existência. No entanto, conforme a trama avança, essa visão idealista começa a se distorcer.
A Desconstrução do Herói
À medida que a narrativa se aprofunda, Eren descobre que os verdadeiros inimigos não são apenas os Titãs, mas o próprio sistema que perpetua o ódio e o ciclo de violência. O peso do fardo que carrega é enorme: ele não luta apenas contra monstros gigantes, mas contra o destino e o determinismo.
O ponto de virada ocorre quando Eren percebe que o poder do Titã Fundador lhe permite ver o passado, o presente e o futuro de forma simultânea. Ele não apenas testemunha, mas também influencia eventos que já ocorreram, criando um paradoxo moral: até que ponto as suas ações são escolhas livres ou simplesmente o cumprimento de um destino inevitável?
O Rumbling: Vilão ou Salvador?
A decisão de Eren de iniciar o Rumbling — um evento catastrófico em que milhões de Titãs Colossais devastam o mundo fora da Ilha Paradis — é vista por muitos como a queda definitiva de seu caráter moral. Ao sacrificar 80% da humanidade, Eren acredita estar garantindo a sobrevivência do seu povo. No entanto, esse ato levanta questões éticas fundamentais sobre o utilitarismo: o fim realmente justifica os meios?
De um ponto de vista filosófico, o pensamento de Eren se alinha ao conceito de “moralidade de guerra”, onde atrocidades podem ser justificadas pelo objetivo maior de sobrevivência. Isso faz dele um vilão aos olhos das vítimas, mas um salvador para aqueles que permaneceram vivos.
O Dilema da Humanidade
O que torna Eren um personagem tão fascinante é sua humanidade profundamente falha. Ele não é um herói clássico, nem um vilão unidimensional. Como seres humanos, todos enfrentamos dilemas morais em menor escala, mas Eren está em uma posição onde cada escolha tem consequências globais.
O filósofo Friedrich Nietzsche disse: “Quem luta com monstros deve ter cuidado para não se tornar um.” Eren exemplifica essa transformação. Ao tentar destruir o ciclo de ódio, ele acaba se tornando parte dele.
As Consequências e o Legado
No final, Eren aceita o ódio que recai sobre ele. Ele acredita que, ao se tornar o inimigo do mundo, está unificando a humanidade contra um mal comum. Esse é um sacrifício semelhante ao de figuras mitológicas e religiosas que assumem o papel de mártires para garantir a sobrevivência dos outros.
Mas o legado de Eren permanece ambíguo. Para alguns, ele será lembrado como um vilão genocida; para outros, como um herói trágico. E para muitos, ele representa algo mais complexo: um ser humano preso nas engrenagens de um destino implacável.
Herói, Vilão ou Humano?
No final das contas, Eren Yeager transcende rótulos simplistas. Sua jornada é um espelho das complexidades morais da existência. Todos nós, em algum momento, enfrentamos decisões que testam nossos valores e nossa visão do mundo. Eren nos desafia a refletir: até que ponto estamos dispostos a ir para proteger aquilo que amamos?
Essa ambiguidade é o que torna sua história tão inesquecível — não porque oferece respostas, mas porque nos força a fazer as perguntas mais difíceis.