A Psicologia por Trás dos Jogos Soulslike: Por que Gostamos de Sofrer?

Os jogos Soulslike, popularizados pela franquia Dark Souls e outros títulos como Bloodborne e Elden Ring, conquistaram uma legião de fãs apaixonados ao redor do mundo. Esses jogos são conhecidos por sua dificuldade brutal, mecânicas punitivas e uma curva de aprendizado implacável. O fascínio por esses desafios aparentemente frustrantes levanta uma questão intrigante: por que gostamos de sofrer? A resposta está profundamente enraizada em conceitos psicológicos, que vão desde a teoria do fluxo até o reforço intermitente e o sentido de realização pessoal.

O Conceito de Fluxo (Flow)

O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi introduziu o conceito de fluxo, um estado mental em que a pessoa está completamente imersa em uma atividade, experimentando foco total e satisfação. Jogos Soulslike são projetados para proporcionar esse estado, equilibrando perfeitamente o desafio e a habilidade. Quando um jogador finalmente derrota um chefe após inúmeras tentativas, ele experimenta uma explosão de dopamina, reforçando o desejo de continuar jogando. É o sentimento de “estar na zona” — e poucos jogos conseguem capturá-lo tão bem.

Reforço Intermitente e Anticipação

Outro conceito fundamental é o reforço intermitente, um princípio psicológico no qual recompensas são distribuídas de maneira imprevisível. Os jogos Soulslike utilizam essa técnica, pois nunca se sabe quando um inimigo deixará cair um item raro ou quando o próximo ponto de salvamento estará disponível. Essa incerteza cria um ciclo de antecipação e excitação, tornando o jogo viciante, mesmo diante de tanta frustração.

O Papel do Sofrimento e da Resiliência

O sofrimento nesses jogos não é meramente punitivo; ele serve como uma ferramenta para o crescimento pessoal. Os jogadores são forçados a aprender com seus erros, adaptando estratégias e aprimorando habilidades a cada tentativa falha. Isso reflete a Teoria da Autodeterminação, que sugere que os seres humanos prosperam quando experimentam competência, autonomia e relacionamento social. Os jogos Soulslike entregam esses três elementos de forma magistral, especialmente quando os jogadores compartilham suas vitórias e derrotas nas comunidades online.

Catarse e Superação

A psicologia também sugere que a superação de obstáculos significativos proporciona uma catarse emocional. Derrotar um chefe em Dark Souls pode ser comparado a superar um grande desafio na vida real, como passar em uma prova difícil ou conseguir um emprego. Essa sensação de triunfo cria um vínculo emocional forte entre o jogador e o jogo, alimentando o desejo de continuar jogando.

A Narrativa e o Mistério

Além da dificuldade, os jogos Soulslike são conhecidos por suas narrativas enigmáticas e criptografadas. Os jogadores precisam reunir fragmentos de história através de descrições de itens, diálogos e ambientação. Esse formato envolve o jogador de maneira ativa, criando uma conexão emocional mais profunda. Em termos psicológicos, isso é semelhante ao efeito Zeigarnik, que sugere que as pessoas se lembram melhor de tarefas incompletas. O mistério persistente desses jogos mantém o jogador engajado mesmo fora do gameplay.

Comunidade e Pertencimento

Não é apenas o jogo em si que atrai; a comunidade ao redor desses jogos é um fator crucial. Fóruns, vídeos de gameplay, memes e discussões sobre teorias criam um senso de pertencimento. Segundo Abraham Maslow e sua Hierarquia de Necessidades, o sentimento de pertencimento é fundamental para o bem-estar psicológico. O apoio e o compartilhamento de experiências dentro dessa comunidade tornam o sofrimento virtual mais suportável e até desejável.

Conclusão

Os jogos Soulslike vão além do simples entretenimento; eles exploram profundamente a psicologia humana, oferecendo uma experiência que combina desafio, realização pessoal e pertencimento. Gostamos de sofrer nesses jogos porque o sofrimento não é o fim — é o meio pelo qual crescemos, aprendemos e encontramos significado. É uma jornada de autodescoberta, onde cada derrota traz uma lição e cada vitória, uma catarse inesquecível. No fim, talvez não gostemos de sofrer; gostamos de quem nos tornamos depois de superar o sofrimento.

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