Neon Genesis Evangelion não é apenas um anime de mechas e batalhas contra anjos, mas uma das narrativas mais profundas e filosóficas já criadas. Inspirado por ideias do existencialismo, a obra explora temas como o vazio da existência, a liberdade como fardo e a incessante busca por significado.
Neste artigo, analisamos como a jornada de Shinji Ikari reflete os conceitos de filósofos como Jean-Paul Sartre e Søren Kierkegaard, tornando Evangelion um dos animes mais impactantes de todos os tempos.
1. A Angústia da Liberdade e a Negação do Eu
O existencialismo defende que a liberdade absoluta vem acompanhada de angústia, pois cabe a cada indivíduo dar sentido à própria existência.
No caso de Shinji Ikari, essa ideia se manifesta em sua relutância em pilotar o EVA-01. Ele não é obrigado a lutar, mas a escolha de fugir traz um peso emocional insuportável. Esse dilema reflete o conceito de “condenação à liberdade” de Sartre, onde o ser humano não pode escapar da responsabilidade sobre suas decisões.
A famosa frase de Shinji — “Eu não posso fugir” — exemplifica essa luta interna. Ele pode evitar o combate, mas isso apenas prolongaria seu sofrimento, pois a busca por aceitação e propósito permaneceria.
2. O Vazio da Existência e o Medo da Solidão
A série aborda a solidão como um elemento central do sofrimento humano. Cada personagem tem dificuldades em se conectar com os outros, criando um isolamento emocional devastador.
Isso se alinha com o conceito existencialista de que a vida não tem um significado pré-determinado. Cabe a cada um encontrar propósito, mas a dificuldade em criar laços genuínos torna esse processo doloroso. Shinji, Rei e Asuka simbolizam diferentes formas de lidar com essa solidão, mas nenhum deles escapa do vazio existencial.
A Instrumentalidade — onde todos os indivíduos se fundiriam em uma única consciência — representa a busca por um sentido universal. No entanto, a série sugere que a individualidade, mesmo com suas dores, é essencial para uma existência autêntica.
3. O Conflito entre Autenticidade e Autoengano
Outro tema crucial do existencialismo é a necessidade de viver autenticamente, ou seja, aceitar as próprias escolhas sem se esconder atrás de ilusões.
Shinji constantemente busca validação externa, vivendo para agradar os outros em vez de se aceitar. Ele se engana ao acreditar que, se seguir ordens, encontrará o pertencimento que tanto deseja. Mas ao final da série, sua maior batalha não é contra os anjos, mas contra si mesmo.
O final de Evangelion enfatiza esse ponto. Ao invés de buscar aceitação externa, Shinji finalmente aprende que precisa encontrar valor dentro de si mesmo.
Conclusão
Neon Genesis Evangelion é uma obra que transcende o gênero dos animes ao explorar os dilemas mais profundos da condição humana. Inspirado pelo existencialismo, Hideaki Anno criou uma história que desafia os espectadores a encararem suas próprias angústias, mostrando que a liberdade pode ser um fardo, mas também a chave para a verdadeira existência.