A Cultura dos Jogos Soulslike: Por Que Gostamos de Sofrer?

A popularidade dos jogos do tipo Soulslike — como Dark Souls, Bloodborne, Sekiro e Elden Ring — pode parecer, à primeira vista, um paradoxo. Em um mundo onde tudo é projetado para facilitar a vida do usuário, esses jogos seguem o caminho oposto: eles punem, frustram e exigem resiliência quase sobre-humana.

Mas então surge a pergunta inevitável: por que gostamos tanto de sofrer nesses jogos?

Neste artigo, vamos explorar a cultura dos jogos Soulslike, analisando seu apelo psicológico, filosófico e até existencial. Prepare-se para mergulhar em um universo onde a dor é parte essencial do prazer.


1. A Filosofia da Superação: Sofrimento como Caminho

Os jogos Soulslike não têm dificuldade apenas por estética. Eles foram projetados com uma filosofia clara: o crescimento vem com o fracasso. Cada derrota em Dark Souls é uma lição. Cada tentativa frustrada em Sekiro é um degrau na escada da evolução.

Essa lógica se conecta diretamente com a filosofia stoica e existencialista. Para os estóicos, a dor é parte inevitável da vida, mas cabe a nós decidir o que fazer com ela. Já os existencialistas afirmam que o sofrimento é parte da liberdade humana — somos livres para agir, mas também somos responsáveis pelas consequências.

Nos jogos Soulslike, a única maneira de vencer é entender, adaptar e continuar tentando.


2. O Apelo Psicológico: A Recompensa Pós-Trauma

A psicologia comportamental explica por que sentimos prazer mesmo em experiências que nos causam frustração: isso se chama reforço intermitente. Você falha inúmeras vezes, mas quando finalmente vence um chefe ou passa por uma área difícil, a descarga de dopamina é brutal — e viciante.

Além disso, esses jogos provocam um tipo de imersão emocional profunda. O jogador não apenas assiste à jornada do herói — ele vive essa jornada. O medo de perder as almas, o alívio após vencer, a tensão de cada esquina escura… Tudo isso cria um vínculo emocional intenso com o jogo.


3. Narrativas Crípticas e Filosóficas

Diferente de RPGs convencionais que “explicam tudo”, os Soulslike escondem a história em fragmentos: descrições de itens, ruínas esquecidas, falas enigmáticas de NPCs. Para entender o mundo, você precisa cavar.

Essa abordagem transforma o jogador em um arqueólogo filosófico, instigado a interpretar símbolos, metáforas e temas recorrentes: a decadência, a morte cíclica, a vaidade dos deuses, a fragilidade da existência.

Dark Souls, por exemplo, pode ser visto como uma metáfora para a inevitabilidade da morte e a resistência teimosa da vida — mesmo que tudo esteja desmoronando, a chama ainda precisa ser carregada.


4. A Comunidade: Sofrimento Compartilhado é Mais Suportável

A cultura dos jogos Soulslike não é feita apenas de solidão. Pelo contrário — a comunidade online é extremamente engajada, trocando dicas, construções de personagem, teorias de lore e memes.

Esse sentimento de sofrer junto gera pertencimento. Existe quase um “ritual de iniciação” entre os jogadores. Se você derrotou Ornstein e Smough, sobreviveu a Blighttown ou enfrentou Isshin em Sekiro, você “passou no teste”. E isso cria uma espécie de honra entre os “guerreiros digitais”.


5. A Rebelião Contra a Facilitação Extrema

Nos últimos anos, muitos jogos priorizaram acessibilidade, tutoriais longos, checkpoints generosos e modos de história com dificuldade mínima. Os Soulslike, por outro lado, resistem a essa tendência.

Eles dizem: “não vamos te explicar tudo, e você vai morrer — muito”.

Esse posicionamento anti-mainstream atrai jogadores que querem algo diferente, que valorizam o mérito conquistado com esforço. Em um mundo onde tudo é cada vez mais rápido e fácil, esses jogos representam resiliência, paciência e profundidade.


Conclusão: Não é Apenas Dor — É Significado

Gostar de jogos Soulslike não é gostar de sofrer. É gostar de crescer através do sofrimento. É encontrar significado em cada morte, saborear cada vitória como um triunfo pessoal. É uma jornada filosófica que, como a vida, não tem atalhos — apenas a promessa de que, se você continuar tentando, vai se tornar alguém melhor no final.


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