O Eterno Retorno em ‘Dark’: Nietzsche e a Filosofia do Tempo Cíclico

A série Dark, da Netflix, não é apenas uma ficção científica sobre viagens no tempo — é também uma profunda reflexão filosófica sobre o livre-arbítrio, o destino e, principalmente, o conceito do eterno retorno, formulado por Friedrich Nietzsche.

Em Dark, os personagens estão presos em um ciclo sem fim de eventos que se repetem em diferentes épocas, refletindo a ideia de que tudo o que acontece já aconteceu antes — e acontecerá novamente. Neste post, vamos explorar como essa ideia é representada na narrativa da série e como ela se conecta à filosofia do tempo cíclico proposta por Nietzsche.


O que é o Eterno Retorno?

O conceito do eterno retorno foi apresentado por Friedrich Nietzsche em obras como A Gaia Ciência e Assim Falou Zaratustra.

Segundo Nietzsche, o eterno retorno é a hipótese de que tudo o que você vive irá se repetir infinitamente, exatamente da mesma forma. Não se trata de uma crença religiosa ou científica, mas de um experimento existencial:

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse até você e dissesse: ‘Esta vida, como você a vive agora e como a viveu, você terá de vivê-la de novo, incontáveis vezes mais…’”

A provocação é: você aceitaria sua vida como ela é, sabendo que ela se repetirá para sempre? Ou você viveria de forma diferente para que essa repetição eterna valesse a pena?


O Tempo em ‘Dark’: Linear ou Cíclico?

Em Dark, o tempo não é uma linha reta, mas sim um círculo fechado. A série nos apresenta três ciclos de 33 anos, nos quais os mesmos eventos se repetem — com pequenas variações — influenciando e sendo influenciados por si mesmos.

Os personagens tentam desesperadamente quebrar o ciclo, mas a maioria das tentativas acaba reproduzindo os mesmos resultados. É como se todos estivessem presos em uma máquina do destino que gira eternamente.

Essa estrutura narrativa se alinha perfeitamente à ideia nietzschiana do eterno retorno: não há escapatória do ciclo, a não ser uma transformação radical da forma como se vive e escolhe.


Jonas e o Peso da Repetição

Jonas, o protagonista de Dark, é talvez o personagem que mais sofre com o fardo do eterno retorno. Ele vivencia repetidamente a dor, a perda, o fracasso e a tentativa de corrigir o que parece inevitável.

Aos poucos, ele compreende que toda ação que toma para evitar o futuro, na verdade, contribui para sua realização. Sua jornada representa o dilema nietzschiano: como lidar com a ideia de que tudo está condenado a se repetir?

Jonas só começa a se libertar quando aceita o ciclo — e então, com clareza e coragem, busca uma forma de transcendê-lo, abrindo caminho para o “não-ciclo”.


Nietzsche, Determinismo e Escolha

Embora o eterno retorno seja, à primeira vista, uma ideia determinista, Nietzsche a usa como uma provocação ética e existencial. Ele não quer que você aceite passivamente a repetição — mas sim que viva de tal maneira que deseje essa repetição.

Em outras palavras: viver intensamente, com autenticidade, coragem e responsabilidade, de modo que cada momento da sua vida seja digno de ser vivido infinitamente.

Dark traduz isso visualmente e narrativamente: os personagens vivem em sofrimento justamente porque não conseguem quebrar padrões, não mudam sua essência — permanecem presos a escolhas impulsionadas por medo, ego e dor.


Martha e o Mundo Espelhado: A Saída do Ciclo

É somente quando Jonas e Martha (em sua versão do mundo espelhado) percebem que o ciclo precisa ser quebrado em sua origem — no momento de criação dos mundos — que uma saída começa a se desenhar.

Essa ação representa o que Nietzsche chamaria de um ato de superação do eterno retorno: não a negação da repetição, mas a transcendência de uma existência marcada pela dor e pela falta de consciência.

Eles quebram o ciclo ao aceitar o sacrifício, renunciando à própria existência para impedir que os eventos iniciais (o acidente do filho de Tannhaus) aconteçam. É o ápice da liberdade humana: a capacidade de interromper o padrão.


Conclusão: E se sua vida fosse um eterno retorno?

Dark é uma poderosa metáfora audiovisual da filosofia nietzschiana. Ao assistir a série, nos perguntamos:

👉 Estamos presos em nossos próprios ciclos pessoais?
👉 Vivemos de maneira que aceitaríamos reviver cada dia eternamente?
👉 O que seria necessário para romper os padrões que nos aprisionam?

Assim como Jonas, talvez só encontremos uma saída real quando encararmos nossa vida com total consciência e responsabilidade. O eterno retorno, afinal, não precisa ser um castigo — ele pode ser um convite a viver de forma mais autêntica, presente e intencional.


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