Death Note é muito mais do que um anime de suspense sobre um caderno que mata pessoas. Por trás da tensão psicológica, da genialidade dos personagens e dos jogos mentais entre Light e L, existe uma reflexão densa e provocadora sobre o valor da vida, os limites da justiça e, acima de tudo, a busca por sentido em um mundo aparentemente indiferente.
Através da trajetória de Light Yagami, Death Note mergulha em questionamentos existencialistas profundos: o que torna uma vida significativa? Quem tem o direito de decidir o que é certo ou errado? E o mais inquietante: o ser humano é capaz de lidar com o poder de um “deus”?
Light Yagami: Um Jovem em Crise Existencial
No início da série, Light é um estudante brilhante, entediado com o mundo ao seu redor. Ele enxerga a sociedade como injusta, cheia de corrupção, violência e hipocrisia. Esse sentimento de vazio e desconexão é um dos pilares do existencialismo, filosofia que defende que a vida não possui um sentido intrínseco — e que cabe a cada indivíduo criar o seu próprio significado.
Ao encontrar o Death Note, Light vê a oportunidade de preencher esse vazio: ele pode se tornar o juiz supremo da humanidade, eliminando criminosos e criando um novo mundo “puro”. Sua jornada se torna a busca por um propósito: dar sentido à sua existência por meio do poder e da imposição da sua própria moralidade.
A Ilusão de Ser um Deus
Light não se limita a usar o caderno — ele assume uma nova identidade: Kira, um símbolo de justiça e punição divina. A obsessão por esse papel o afasta de sua humanidade. Ele se vê acima dos demais, imune às consequências éticas de seus atos. A clássica frase “O fim justifica os meios” se torna o lema da sua existência.
Porém, do ponto de vista existencialista, especialmente sob a ótica de Jean-Paul Sartre, Light está em má-fé: ele foge da liberdade autêntica ao tentar se esconder atrás da figura de Kira. Em vez de assumir suas escolhas como indivíduo falível, ele se esconde atrás do personagem “divino”, evitando encarar a angústia de ser simplesmente humano.
A Responsabilidade da Escolha
O existencialismo afirma que somos livres — e, portanto, radicalmente responsáveis por nossas ações. Light tenta escapar dessa responsabilidade moral ao alegar que tudo o que faz é “pelo bem maior”. No entanto, suas ações o colocam cada vez mais distante do ideal de justiça que ele proclamava.
Em diversas situações, Light mata pessoas inocentes, manipula amigos e familiares, mente e destrói vidas. Ele começa justificando suas escolhas com lógica e “necessidade”, mas ao longo do tempo, sua motivação passa a ser a manutenção do poder. Ele já não mata pelo bem — mata para continuar sendo “Deus”.
Essa transição mostra como o poder, quando não é questionado, pode corromper até as intenções mais nobres. O que era uma busca por sentido se torna um espelho do vazio que Light queria preencher.
L e a Confrontação Ética
A contraparte de Light, o enigmático detetive L, representa a razão ética. Embora também seja excêntrico e tenha métodos questionáveis, L jamais perde de vista que todos — inclusive ele mesmo — devem ser responsabilizados por suas ações. O confronto entre os dois é, simbolicamente, o embate entre justiça pessoal e justiça coletiva, entre a moral subjetiva e a ética universal.
Enquanto Light deseja remodelar o mundo à sua imagem, L busca compreendê-lo e lidar com suas imperfeições. L aceita que não há respostas simples, enquanto Light insiste em impor as suas. Essa diferença é essencial: um tenta controlar a realidade, o outro tenta compreendê-la.
A Morte Como Limite Filosófico
No universo de Death Note, a morte não é apenas uma consequência: ela é o centro da narrativa. Cada nome escrito no caderno nos lembra da finitude humana, da fragilidade da existência e da urgência de viver com propósito. O existencialismo parte justamente dessa premissa: vivemos uma vida finita, e é por isso que precisamos atribuir sentido ao que fazemos.
Light, ao tentar evitar a banalidade da existência, mergulha em um projeto que o destrói. Ao final, resta uma pergunta essencial: valeu a pena?
Conclusão: Luz, Trevas e Liberdade
Death Note nos obriga a confrontar dilemas morais e existenciais que nos perseguem fora da ficção. Light Yagami não é um vilão comum — ele é o reflexo distorcido de um desejo universal: dar sentido à vida e fazer a diferença no mundo. O problema surge quando esse desejo é guiado por arrogância, orgulho e negação da própria humanidade.
A série é, portanto, uma parábola moderna sobre o existencialismo: somos livres, mas com isso vem a responsabilidade, o peso da escolha e a necessidade de encarar a angústia de viver sem garantias absolutas.
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