Quando o Tempo É Solitário
Frieren: Beyond Journey’s End começa quando muitas histórias terminariam: o grupo de heróis salvou o mundo e a missão épica chegou ao fim. Mas o que acontece depois disso, especialmente quando um dos integrantes não é humano e, portanto, não compartilha da mesma relação com o tempo?
A personagem principal, Frieren, é uma elfa imortal que testemunha o fim de uma era e a perda de companheiros que, para ela, passaram como um suspiro — mas que deixaram marcas profundas.
⏳ A Imortalidade e o Tempo Relativo
Para os humanos, tempo é finitude. Cada dia é precioso porque sabemos que ele é contado. Para Frieren, porém, cem anos podem parecer como uma estação do ano que passa despercebida. Ela vive fora do ritmo humano, e isso a isola emocionalmente.
Essa desconexão é o primeiro ponto central da obra. Quando Himmel, o herói humano do grupo, morre, Frieren parece indiferente — até começar a lembrar, e sentir, e questionar. A dor da perda vem atrasada, mas vem com força.
“Eu queria ter conhecido ele melhor…” — Frieren
Essa frase encapsula toda a premissa da série: ela estava lá, mas não esteve de fato presente. E isso a assombra.
🧠 Psicologia do Luto Tardio
O luto de Frieren é complexo. Na psicologia, chamamos de luto adiado quando a pessoa demora a processar emocionalmente a perda. Isso pode acontecer por bloqueios afetivos, negação ou por uma dissociação com a realidade — como no caso de Frieren, cuja perspectiva de tempo distorce a experiência emocional.
Ela não sofreu no momento porque, para ela, aquele tempo não parecia tão longo. Mas quando percebe que os outros envelheceram, morreram, e que ela continua, o peso da ausência se torna insuportável.
🤖 Viver Longamente Não É o Mesmo que Viver Plenamente
A imortalidade de Frieren a impede de criar vínculos profundos. Como se ela evitasse se apegar por medo de perder. Mas essa defesa cobra seu preço: ela se sente vazia, solitária, desconectada.
Esse é um dilema que muitos vivem, mesmo sem serem imortais. Pessoas que evitam vínculos por medo da dor — e, assim, vivem na superfície, sem profundidade. Frieren nos mostra que a vida sem envolvimento emocional é uma existência incompleta, por mais longa que seja.
🕯️ O Valor da Memória
Em sua nova jornada, Frieren tenta entender quem foram de fato seus antigos companheiros — especialmente Himmel. Ela visita lugares que passaram juntos, conversa com pessoas que os conheceram, e cada lembrança se torna um reencontro emocional.
A memória aqui tem uma função dupla:
- É cura, pois permite que Frieren processe o passado e valorize o que viveu.
- E é fardo, pois mostra o que foi perdido para sempre.
No fundo, Frieren é sobre a construção de sentido a partir da memória, algo profundamente humano.
👁️🗨️ O Olhar Filosófico: Heidegger e o Ser-Para-a-Morte
O filósofo alemão Martin Heidegger dizia que viver autenticamente é viver com a consciência da morte. O humano, ao saber que vai morrer, é capaz de dar valor ao tempo e às escolhas. Frieren, sendo imortal, não vive sob essa pressão, e por isso demora a compreender o valor dos momentos.
Sua jornada filosófica é a tentativa de se tornar mais humana — de viver não só por viver, mas com significado, com presença e com emoção.
👣 A Nova Jornada: A Redenção pelo Caminho
Depois da morte de Himmel, Frieren se propõe a uma nova jornada — dessa vez, não para salvar o mundo, mas para reconstruir os laços com o passado e se transformar internamente.
Ela começa a criar vínculos com novas pessoas, como a aprendiz Fern e o guerreiro Stark. E, dessa vez, ela tenta estar mais presente, mais consciente, mais aberta. A imortalidade não mudou, mas sua postura diante da vida sim.
🔁 Tempo, Culpa e Repetição
Um dos temas mais sutis da obra é a culpa. Frieren carrega o peso de não ter valorizado os momentos com Himmel e os outros. Ela tenta compensar isso sendo melhor agora — algo que muitos de nós também fazemos quando perdemos alguém.
A repetição, nesse caso, não é erro — é tentativa de redenção. Ela ensina Fern com mais cuidado. Observa os gestos. Faz perguntas. Quer conhecer, de verdade, quem está ao seu lado agora.
🌱 O Crescimento da Alma
O desenvolvimento de Frieren é delicado, silencioso, mas profundo. Ela não vira alguém sentimental de uma hora para outra. Mas aos poucos, passa a sentir mais, a se importar mais, a valorizar mais.
Essa transformação mostra que, mesmo com centenas de anos vividos, a alma pode continuar crescendo.
✨ O Que Frieren Nos Ensina
Frieren é uma obra que toca profundamente em questões existenciais. Ela nos convida a refletir:
- Será que estamos vivendo de verdade os momentos com quem amamos?
- Estamos presentes ou apenas passando pelo tempo?
- O que deixaremos para trás: lembranças vivas ou ausências sentidas?
A jornada de Frieren é, no fundo, a jornada de todos que perdem, amadurecem e aprendem a valorizar o agora.
🧠 Conclusão: O Tempo Só Faz Sentido Quando Amamos
A dor de viver para sempre é a dor de ver o mundo mudar, as pessoas partirem, e o coração ficar mais pesado a cada século. Mas Frieren mostra que, mesmo com todo esse fardo, a vida ainda pode ser bela, se estivermos dispostos a sentir de novo.
No fim, não é a magia, a imortalidade ou as batalhas que importam.
É o tempo partilhado com sinceridade.
É a risada que ficou na memória.
É o olhar que marcou uma alma.
Frieren aprende isso. E nós também.
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